A produção de leite é o principal indicador do mercado de silagem de milho no Brasil: as principais bacias leiteiras estão concentradas nas regiões Sul e Sudeste, é justamente nessas regiões de maior produção de leite que se encontram as maiores áreas de produção de silagem de milho. A área de lavoura destinada à produção de silagem é de cerca de 1 milhão de hectares, algo em torno de 28% da área total cultivada de milho verão no País. E ao longo das últimas três safras se manteve estável, sem grandes variações de tamanho de mercado.
O principal estado produtor é Minas Gerais, com aproximadamente 400 mil hectares de milho verão destinados à silagem, representando 38% do mercado de silagem no Brasil. Em seguida vem o estado do Rio Grande do Sul, com 316 mil hectares - 30% do total nacional. (Pesquisa Spark, 2017/2018). A planta ideal para ensilagem contém baixos teores de fibras, e fibras de melhor digestibilidade; alta porcentagem de grãos na silagem; e alta produtividade de massa. O milho apresenta condições ideais para a produção de uma boa silagem: é a forragem mais tradicional e o principal volumoso empregado nos sistemas mais intensivos de produção de carne, e principalmente de leite, apresentando boa produção de Matéria Seca por hectare, e elevado valor nutritivo.
Há quatro formas principais de produzir silagem. São elas:
- Silagem de grão úmido: é o grão do milho colhido e triturado, com umidade entre 32% e 42%, realizada quando se prioriza o alto teor de energia;
- Silagem de milho reidratado: é quando o grão de milho é colhido seco e posteriormente reidratado, com o objetivo de promover a fermentação - processo utilizado com o intuito de maximizar o aproveitamento do amido;
- Silagem de espigas: é constituída somente pelos grãos, sabugo e a palha da espiga, tendo como principal vantagem o aumento da fibra na dieta dos animais, utilizado quando deseja-se um alimento de altíssima qualidade, porém a dificuldade de uso se dá em função da limitação de área;
- Silagem de planta inteira: consiste em picar todas as partes da planta. É a forma mais utilizada pelos produtores, por unir qualidade e boa produtividade por área. Sendo assim, a destacaremos neste informativo. Para mensurar a qualidade da silagem de planta inteira, muitos produtores já fazem a Análise Bromatológica, porém há sempre dúvidas nesse sentido. Por isso, listaremos aqui, de maneira objetiva, as principais análises que devem ser solicitadas e suas respectivas interpretações.
MS:
Matéria Seca (MS) é o peso total da silagem, descontada toda a umidade. O teor ideal de Matéria Seca para silagem de milho é de 32% a 35%, pois nesta faixa se obtém as melhores produções de massa seca, maior digestibilidade da fibra, melhor qualidade nutricional da silagem, maior consumo pelos animais, e maior produção de leite por tonelada de silagem e por hectare.
Amido:
O amido é sintetizado pelas plantas e possui a função de reserva energética. Os grãos são a principal fonte de amido na alimentação animal. A presença de amido é fundamental na exploração de animais de alta produção, que exigem níveis elevados de energia na dieta. O amido contribui com aproximadamente 50% do valor energético da silagem, e sua digestibilidade varia de 70% a 100% do total ingerido. Otimizar a utilização de amido é uma alternativa para aumentar a produção de leite e/ou reduzir custos. Uma silagem de qualidade apresenta teores de amido entre 30% e 40%, tendo assim um balanço ideal entre as quantidades de fibras e o amido.
FDN:
Fibra Detergente Neutro (FDN) identifica a quantidade total de fibra existente na silagem, que é composta principalmente por celulose, hemicelulose e lignina. O ideal de digestibilidade da FDN é de 55% a 60%. A FDN do grão de milho fica em torno de 12%, já o da planta de milho possui de 60% a 65%, portanto, quanto menor o teor de FDN de uma silagem, maior será a quantidade de grãos em sua composição.
FDA:
Fibra Detergente Ácido (FDA) identifica a quantidade de celulose e lignina presentes na FDN, ou seja, representa a parte não digestível da planta. Para que uma silagem seja de qualidade, deve ficar abaixo de 30%. A lignina é a fração mais rígida da planta, responsável pela sustentação do caule, por isso seu teor de digestibilidade é baixo. Quanto maior for a participação da FDA na silagem, menor será a digestibilidade da FDN, resultando em menor taxa de ingestão e produção de leite.
DFDN:
A Digestibilidade da Fibra em Detergente Neutro (DFDN) da silagem nos permite estimativas mais precisas de Nutrientes Digestíveis Totais (NDT), energia líquida (EL), e potencial de consumo de Matéria Seca (MS), tornando o balanceamento da dieta mais preciso, e a produção de leite pela vaca, por exemplo, mais previsível. No Brasil, têm sido crescentes as recomendações técnicas para que a escolha do híbrido para silagem de milho tenha como base a digestibilidade da fração FDN, e os valores ótimos da DFDN estão entre 55% e 60%.
Kg leite / tonelada de matéria seca
Este parâmetro estima a quantidade de Kg leite produzido por tonelada de matéria seca ingerida. Esse índice é amplamente usado na tomada de decisão na pecuária durante a escolha do híbrido de milho a ser utilizada para silagem. Na análise bromatológica, quanto maior for o valor desse parâmetro, maior será seu potencial de conversão de matéria seca ingerida em kg de leite.
Kg leite / ha
Este parâmetro estima a quantidade de leite produzida por hectare. Por meio desse parâmetro é possível identificar materiais que possuem alta produtividade de matéria seca associada ao alto potencial de conversão de kg leite. Este índice auxilia o produtor de silagem a selecionar híbridos de milho que tornem seu negócio mais rentável, produzindo mais matéria seca na mesma área ou ocupando menor área de cultivo.
Nutrientes Digestíveis Totais (NDT):
Este parâmetro mede o valor energético total de uma silagem, ou seja, aquilo que será convertido em leite ou carne, cujo ideal deve ser sempre maior que 65%. Tem relação direta com a produtividade de grãos do milho e com a digestibilidade da FDN. O aumento na qualidade da silagem de milho deve ser o objetivo de todo pecuarista, e para obtê-la é necessário aumentar os valores de NDT.
Parâmetros bromatológicos ideais
Comparativo entre duas análises bromatológicas contrastantes
Na tabela abaixo é possível observar duas análises bromatológicas com resultados contrastantes:
Na análise bromatológica do híbrido A, podemos observar que seus parâmetros não atingiram os teores considerados ideais. Nela, consta matéria seca de 28%, o que significa que a silagem foi colhida antes de atingir seu ponto ideal de corte. Quando isso acontece, há uma redução na produtividade de matéria seca, uma menor deposição de amido no grão, e menor participação dos grãos na silagem, resultando em uma silagem com menor oferta de energia para o animal. Isso fica evidente quando observamos os baixos valores de Kg de Leite / tonelada de MS e Kg de Leite Ha-1 na análise bromatológica do híbrido A, que atingiram apenas 1.281 e 17.709, respectivamente.
Já os resultados da análise bromatológica do híbrido B são bem distintos em relação à primeira análise. Podemos constatar que o ponto de corte ideal foi respeitado no momento da colheita da silagem, resultando em uma matéria seca de 34%. Isso proporcionou o acúmulo ideal de amido e quantidades baixas de fibras (FDA e FDN), resultando em um alto valor energético constatado pelo NDT de 75%.
Por meio dessa análise, verificamos uma silagem de alto valor nutricional para o animal, juntamente com alta produção de matéria seca, podendo isso ser averiguado pelos altos valores de Kg de Leite / tonelada de MS (1.676) e Kg de Leite Ha-1 (31.341).
Estratégias de Manejo para obtenção de uma Silagem de Alta Qualidade
- Utilizar híbridos adaptados à região, indicados para silagem, com boa relação de produção de grãos e quantidade de massa verde digestível;
- Ensilar o milho com o teor de matéria seca, preferencialmente, entre 30% e 40% - ideal 35%;
- Utilizar estratégias visando a quebra dos grãos;
- Em colhedoras autopropelidas, utilizar o equipamento cracker, e em colhedoras tradicionais, aumentar a frequência do afiamento das facas e diminuir a distância entre as mesmas;
- Maiores densidades de plantas e maior altura de corte melhoram a qualidade sem comprometer o rendimento, visto que será diminuída a quantidade de fibras presentes no colmo;
- Utilizar a silagem colhida para alimentação somente após 90-120 dias de armazenamento, para melhoria na digestibilidade da matéria seca.
Referências Bibliográficas
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