As chuvas extremas durante o mês de maio causaram inundações em grande parte do estado do Rio Grande do Sul, gerando transtornos em várias propriedades rurais e deixando os produtores preocupados. Em alguns casos, as inundações afetaram lavouras de milho em estágio próximo à colheita de silagem e, em outros, atingiram silos de silagem armazenadas de safras anteriores. Dada as circunstâncias, sobretudo por
se tratar de um tema pouco corriqueiro no Brasil, decidimos expor algumas medidas práticas, porém não cientificas - haja vista que existem poucos estudos documentados na literatura sobre esse assunto – para poder auxiliar produtores e técnicos a minimizarem possíveis problemas.
Lavoura afetada pela inundação
O grau de dano ocasionado pela inundação nas lavouras de milho varia de acordo com o estágio que ela se encontra. Plantas jovens são mais susceptíveis e não sobrevivem por mais de 48 horas em solos com lâmina de água sobre a superfície e, mesmo que sobrevivam, o sistema radicular pode ser afetado e reduzir a absorção de nutrientes, aumentando a suscetibilidade ao estresse por seca em estágio mais avançado. No entanto, as inundações atingiram lavouras que, em sua maioria, estavam em estágio avançado suficiente para que o meristema apical não fosse atingido, aumentam a possibilidade de sobrevivência das plantas. Ressalvas devem ser feitas a lavouras que sofreram acamamento. Em situações menos severas, as lavouras que acamaram podem apresentar “pescoço de ganso”, mas devem voltar ao normal dentro de 7 a 10 dias se ainda estiverem verdes, no entanto, espigas pesadas podem impedir que os colmos retornem à posição vertical como antes.
Dentro desse cenário, a pergunta que surge é: - Poderei colher esse milho para silagem? Para a maioria dos casos a resposta é sim, mas alguns cuidados devem ser tomados.
Solos saturados de água diminuirão a taxa de secagem das plantas, especialmente sob temperaturas mais baixas devido à aproximação do inverno, portanto, monitore o teor de matéria seca da planta antes de colher. Considere colher com matéria seca próximo a 35%, no entanto, nessas condições é aceitável qualquer colheita com matéria seca entre 30% e 38%. Embora 30% MS possa ser aceitável, está longe de ser o ideal, pois neste momento as plantas de milho estão adicionando o máximo rendimento, principalmente na forma de amido. Por outro lado, colher com teores de matéria seca acima do ideal pode reduzir o desenvolvimento de bactérias ácido láticas, permitindo deterioração por microrganismos secundários.
Uma das maiores preocupações é o lodo carreado pela água que pode se alojar na superfície e na bainha das folhas. A chuva poderá lavar o lodo da superfície das folhas, mas dificilmente removerá o lodo depositado nas bainhas. Esse lodo é a principal fonte de bactérias Clostridium, as quais podem gerar fermentações indesejáveis da silagem.
Além disso, o lodo é abrasivo e os operadores precisarão tomar cuidado extra para garantir que as facas estejam afiadas. Esteja preparado para reparos extras devido ao maior desgaste. Se possível, eleve a altura de colheita para cima da linha de lodo. Em situações extremas, pode ser mais vantajoso colher o milho como snaplage ou grão úmido.
Quando definir pela ensilagem do milho, considere usar inoculantes com bactérias ácido láticas de empresas reconhecidas. Opte por inoculantes que forneçam pelo menos 105 UFC por g de forragem e associem bactérias homoláticas e heteroláticas, como Lactobacillus buchneri, especialmente em silagens com teores de matéria seca mais elevados.
Silagem afetada pela inundação
Antes de utilizar a silagem presente em um silo que foi inundado, faça uma avaliação visual, verificando o cheiro e a cor. Se estiver cheirando bem, então pode estar boa para uso. Observe também o aparecimento de mofo, mas lembre-se, são apenas avaliações visuais, o ideal será enviar uma amostra representativa da silagem para análise de micotoxinas. Envie também uma amostra para análise bromatológica para entender as alterações na composição nutricional da silagem. Devido a presença de lodo e percolação da água, a silagem poderá apresentar maior teor de cinzas e uma menor densidade proteica e energética.
Descarte a silagem que esteja visivelmente contaminada com lodo ou mofada. Outra recomendação é limitar a quantidade desta silagem na dieta dos animais, sobretudo para animais mais jovens, já que a possível carga de micotoxinas deve ser maior em relação ao seu peso corporal. Misturar a silagem inundada com forragens não contaminada pode ser um meio de reduzir o impacto na saúde dos animais. Depois de começar a alimentar os animais com a silagem inundada, observe eles com mais atenção e frequência. Micotoxinas e outros patógenos potenciais podem causar problemas de saúde imediatamente ou ao longo do tempo.
Sempre que possível consulte um especialista para que ele possa ajudá-lo nas decisões e ações a serem tomadas agora e a longo prazo.
Egon Henrique Horst
Especialista de Silagem BR e PY, LongPing High-Tech